domingo, 25 de janeiro de 2009

O elogio

Definitivamente existem pessoas que não nascem com o dom de medir as palavras. Muitas vezes não devemos expressar todas as coisas que pensamos (especialmente se você tem a intenção de levar alguém para o seu sofá depois do cinema!). Esta parece ser uma conclusão à qual é muito fácil chegar. Mas essa não é uma verdade absoluta, muitos são incapazes de guardar opiniões e impressões.

O caso que relatarei a seguir aconteceu comigo em um chuvoso domingo - tenho um probleminha com o primeiro dia da semana, se tem um dia para acontecerem coisas desastrosas relacionadas à minha vida afetiva, é esse! Passei algum tempo sem coragem de revelar-lhes esta história de total falta de delicadeza. Mas agora que finalmente emagreci alguns quilos (não eram tantos assim) adquiridos ao longo de uma viagem de trinta dias, e estou em paz com minha auto-estima, aí vai:

Eu já saia com este gentil cidadão há alguns meses. Depois de anos insistindo para eu dar-lhe enfim o prazer da minha companhia, se é que vocês me entendem, ele conseguiu. Como éramos amigos há muito tempo, as coisas transcorreram sem muitas dificuldades, ele me tratava bem e nos divertíamos juntos. Nas primeiras vezes em que saímos, ele fazia questão de exaltar a realização de um sonho antigo, que era estar ali naquela agradável situação e de ressaltar minhas inúmeras qualidades físicas e mentais. Como tudo que é bom dura pouco, as coisas foram se normalizando, as ligações começaram a ficar mais esparsas e os encontros menos freqüentes.

Mas nesse domingo, nos encontramos. E decidimos ir ao cinema. Enquanto esperávamos o início da sessão resolvemos tomar um café. Vejam bem, um café e não doses de absinto, portanto o dito cujo não pode se beneficiar da desculpa da franqueza peculiar aos bêbados. Conversa vai, conversa vem, e como de costume, ele pôs-se a me elogiar:

- Ah, Samanthinha, você é tão legal, tão inteligente, um pouco cheinha, mas muito gostosa.

Confesso que na hora cheguei a pensar que tinha entendido errado. Nãaao, ele não pode ter dito isso, ele não me chamou de gorda, ele não seria capaz, eu ponderava. Passei o filme inteiro remoendo as suas palavras. Elas ecoavam na minha cabeça. E com o amor próprio dilacerado concluí: era isso mesmo, ele me chamou de cheinha! Sinônimo de gorda, no bom e velho português. Qualificação um tanto quanto injusta, pois de alguns quilos excedentes para gorda ainda faltavam algumas refeições. E também estranha, para uma pessoa que não é nenhum exemplar de magreza, muito ao contrário.

Será que depois do café com aquele ‘amigo’ eu deveria ter tomado uma dose de arsênico? Achei melhor não. No dia seguinte, entrei de cabeça na dieta e desde então não freqüentei mais o seu sofá.

Samantha J.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Aconteceu com uma amiga II, a missão.



Amo muito essa amiga. Deve ser porque ela é das minhas. Tem um dedinho arrebatadoramente podre. Muitos anos depois do episódio do espelho de motel, ela namorava uma rapaz há algumas semanas. Eu o achei meio estranho desde o início, mas, como também sempre ouvi muitas críticas aos meus eleitos e estas nunca surtiram muito efeito, optei por me calar.

No entanto, um bom faro não deixa a desejar... Era sexta feira, ela foi ao salão se embelezar para o programa combinado para aquela noite. Dito e feito, de unhas pintadas e depilação caprichada (só nós mulheres sabemos o sofrimento pelo qual passamos com a finalidade de deixarmos nossas virilhas e adjacências do jeitinho que eles gostam), a minha querida amiga foi ao encontro do moço.

Sempre muito gentil, ele levou a senhorita para jantar e depois de uma agradável refeição foram para a residência dele. Como era de se esperar iniciaram o processo de cópula. Peça após peça, foram ficando com vieram ao mundo. Só faltava a calcinha, cuidadosamente escolhida na gaveta para ser retirada naquele momento. Quando aconteceu o inimaginável:

- Gatinha, essa sua depilação está meio assimétrica, está mais pra direita!

Esse namoro não durou muito. Sorte a dela!

Samantha J.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O relógio

Há algum tempo estou sem postar nenhuma nova história. Infelizmente, estava coletando novos e dantescos episódios para minha biografia.

Mas ontem, algo que ouvi (e que por hora não vou narrar, mas podem ter certeza que o protagonista do caso terá seu espaço – muito merecido - aqui nesse blog) me fez ter vontade de sentar em frente ao computador e relatar um dos fatos ocorridos com esta sofredora que vos fala.

Tenho o estranho hábito de viajar pra longe e conhecer criaturas que moram bem perto de mim. Lá no nordeste encontrei, por acaso no dia do meu aniversário, – ah, que presente do Deus que desenha as coisas – uma pessoa que compôs uma música que não direi qual é e que mora aqui na Cidade Maravilhosa. Vou, porém, dar uma pista: a canção em questão é muito popular e de gosto duvidoso. E sorte de vocês, queridos leitores, eu não reproduzir aqui os seus versos, pois durante as próximas horas estariam cantarolando-os, e mesmo que tentassem se livrar da primorosa rima, não seriam capazes.

Além do curioso costume citado acima, tenho também a sina de atrair músicos, esses seres de vida errante que não são capazes de relacionar-se normalmente com as mulheres (tudo bem, sei que estou generalizando, mas a minha experiência não me permite pensar de outra forma).

Bom, estava eu lá, na tal cidade histórica nordestina, comemorando mais um ano de vida, e conheci este rapaz. Totalmente diferente do tipo físico ao qual eu me acostumara (nunca fui fiel aos de padrões de beleza), mas de aparência bem aprazível. Apesar do receio de depois de velha contrair piolhos, por conta dos seus cabelos com penteado(?) jamaicano, não ofereci resistência quando ele se aproximou para uma conversa.

Depois de chegarmos à conclusão que morávamos perto um do outro e outras cositas mais, vivemos dias de intenso romance. Além de se mudar para a minha pousada, me apresentou toda a família e amigos. Ele tinha que ir embora de sua terra natal, mas antes de partir fez juras de amor: que dia eu estaria de volta ao Rio? Pois ele viajava muito, mas em breve estaria lá para sermos felizes para sempre.

Um par de meses se passou. E finalmente o moço resolveu ligar.

-Demorei pra ligar porque perdi seu telefone.

Até agora não entendi como achou. Mas, como fiquei muito surpresa com a aparição, resolvi dar uma chance ao indivíduo. Encontramo-nos num sábado à noite, ou melhor, madrugada de domingo. Pois é, ele se atrasou um pouco.

Alguns dias depois ligou de novo, como era sexta-feira véspera de carnaval não marquei um local para o encontro, pois a folia é sagrada. Ficamos de nos falar mais tarde, e quem sabe nos vermos entre um bloco e outro. Não apareceu. Só deu as caras dias depois dos festejos populares e no insólito horário de três da manhã. Eu estava dormindo, e logicamente não aceitei a sua oferta de ir à minha casa.

Comecei então a achar seus horários meio estranhos. E a desconfiar que ele não fosse tão disponível como parecia lá na linda cidade nordestina.

Passados vários dias ele voltou a se manifestar. Dessa vez em uma hora aceitável.

-Tô saindo de casa pra te encontrar.

Tomei banho, me vesti, passei perfume. E os ponteiros do relógio rodando, rodando, rodando... Até hoje ele não chegou!



Samantha J.

domingo, 5 de outubro de 2008

O bonzinho piegas

O episódio que vou relatar já aconteceu há alguns meses, mas custei a compartilhar por medo de o rapaz que o protagonizou se reconhecer aqui e sentir-se ridicularizado. O moço, definitivamente, (como diria Cléo Pires) "é um fofo" e não merece. Mas a história é muito boa, não deu pra segurar. Moço fofo, sorry. Caso leia o post, não se revolte, tá? Continuo te achando muito bacaninha... Mas que mandou mal, isso mandou. Bem, vamos ao caso:

A coisa se deu em meados do ano passado. Estava em crise com um ex-peguete fixo, daqueles problemáticos, e decidi dar condição para um admirador antigo, daquele tipo ligou-levou. Um rapaz bonitinho, do tipo bom caráter, galanteador... Tudo que eu precisava para inflar meu ego, a essa altura totalmente detonado pelos vacilos constantes do ex-peguete fixo.

E depois de um convite cara-de-pau, lá fui- numa noite de friozinho muito propícia a início de romance- tomar um vinho ou outra birita qualquer com o rapaz. Ficamos num barzinho bacana, praticamente vazio, tomamos uma caipirinha sensacional, conversamos horas... e ele, como era previsível, me tascou um beijão daqueles no fim das contas.

E saímos de lá lépidos, fagueiros e saltitantes, sob o efeito da caipirinha o do "beijão daqueles". Assim caminhávamos pelas ruas de um bairro da zona sul da cidade quando me deparo com uma casinha bucólica, cheia de chaves de ferro penduradas na porta. E foi nesse momento que o rapaz conseguiu estragar tudo: da minha esperança de tirar da cabeça o ex-peguete fixo problemático ao efeito da caipirinha, que tornava tudo mais colorido. Vejam o diálogo:

Eu: "Nossa, que casinha legal! Olha só, ela tem chaves penduradas na porta"
Ele: "Por falar nisso... e você? Quando vai me dar as chaves do seu coração?"


Nãããããããããão!!!! Por que, meu Deus???? Por que os bonzinhos têm que ser chatinhos? Por que só os filhos da puta, os galinhas, os que cagam pra você e furam quando marcam um encontro nunca falariam uma pieguice dessas? Sinceramente... não fosse eu tão fissurada no sexo oposto, sucumbiria à campanha de umas amigas gays que andam querendo me converter. Homens, ô raça!

Maísa K.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

A grávida

Você está passeando com uma criatura do sexo masculino, com o qual tem uma relação amorosa ou apenas libidinosa. De repente, encontram uma amiga, ou pior ainda, uma desconhecida numa fila ou num balcão de padaria. E o seu acompanhante, muito simpático e falastrão, pergunta à moça, que está grávida:

- É menino ou menina?

A gestante sorri e responde:

- É menina!
- Menina é muito bom! Quanto mais mulher no mundo melhor! O problema de ter filha, pro pai, é que ele vira fornecedor!
– retruca o rapaz, enquanto ri da sua própria “piada”.

Enquanto isso, a grávida com um sorriso amarelo no rosto pensa:

- Que babaca!

E você, com a face ruborizada pensa:

- Esse mulherengo filhodaputa é mesmo um babaca! O que eu estou fazendo aqui?

Você, querida leitora, já passou por essa situação constrangedora? Se a resposta for positiva não se sinta sozinha.

Fique sabendo que comigo também aconteceu. Exatamente assim, duas vezes, cada uma com um sujeito. O segundo deles ainda completou:

- Eu sei porque tenho uma filha!

Já o primeiro, um mês depois de eu ter passado pelo mesmo caso com o seu sucessor, estava na maternidade em função do nascimento da sua primogênita.

Samantha J.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Mais uma cantada chula

Definitivamente, como disse em outro post, eu tenho dedo podre até mesmo quando não o aponto para ninguém. Além de não saber escolher os cidadãos com os quais me relaciono, tenho mesmo imã pra abordagens chulas. E o que é pior: sou vítima de reincidentes no crime. Lembram do ser humano que me propôs "botá isso aí pra jogo"?

Pois é... Quando acreditava que o sujeito já tinha ido para o universo dos encostos despachados, eis que ele ressurge. E com tudo, pra provar que grosseria e falta e noção são virtudes que alguns indivíduos só aprimoram com o passar do tempo. O fato é que o moçoilo fez aniversário e me convidou para a festa. Não fui, é claro! No entanto, como sou moça educada, deixei um recado felicitando o rapaz, agradecendo o convite e perguntando, despretensiosamente, algo como "e a festa, foi legal?" Eis que recebo a seguinte resposta (Ipsis litteris):

Poxansssss... obrigado pelo parabéns... mas ae , faltou vc aki... nem pude pôr a comida na panela... muita linguiça... hahahahhahah Senti sua falta aki.. fica me devendo, ok? Um chopinho... beijaummm

E cadê a cantada chula? Que problema há na resposta do rapaz?, perguntarão alguns. Além do vocabulário miguxês, nenhum, responderia eu. Não fosse o fato de o meu apelido- na turma da qual o referido sujeitinho faz parte- ser "Panela".

Por Maisa K.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Participação especial

A nossa primeira colaboradora, Teodora T. Amiga querida, que não tem dedo podre, mas também não pode dizer seja a menina do dedo verde!

Foi a pimenta
Pode ter sido a pimenta no molho do macarrão. Eu não gosto de pimenta, mas coloquei mesmo assim, porque achei que o outro gostasse.
Também peguei os pratos de porcelana chinesa, os talheres bonitos, arrumei e limpei toda a casa.
Comprei cerveja, passei perfume, passei pó compacto. Sim, pó compacto. Quando nos conhecemos eu era rata de praia, e agora sou gente grande e tenho que disfarçar minha palidez com pó compacto.
Fiz até depilação.

Só não ensaiei o que dizer, pois isso nunca deu certo comigo (será que já deu certo com alguém?).Correu tudo bem, embora a visita, assim como eu, também não gostasse de pimenta. Não fui elogiada por meus dotes culinários (eu juro que sou boa nisso), mas não sobrou nada no prato. Resolvi me contentar.

A conversa, como sempre, fluiu muito bem. É verdade que as gargalhadas, comuns em nossos bate papos, foram menos frequentes. Mas dessa vez conversamos sobre coisas mais sérias. E eu achei isso bom.

A visita falou muito mais do que me ouviu. Mas eu acho que a visita só se fez visita porque tava mesmo querendo conversar. E eu ouvi, com atenção. Estava muito interessada em tudo o que aquela pessoa bonita queria me dizer.

Agora eu sei de muitas coisas: teve infância problemática; quer casar e ter filhos, mas só depois dos 30; não é fiel; desenha como poucos; e toca também; tem um cachorro vira-latas com um nome engraçado (mas isso eu já sabia); os óculos são para enxergar de longe; teve um amigo que se jogou pela janela; não namora há dois anos; só ronca quando não dorme de barriga para cima; gosta de ficar mais uns minutinhos na cama; e é bonito, como é bonito.... pensa que não é mais, mas é, quando eu abri a porta de casa pensei: "não acredito que essa pessoa bonita está aqui, na minha casa!".

O beijo é bom, o abraço é de verdade.
Foi embora e eu achei que estava tudo certo. Não fiz planos, juro que não fiz. Não achei que fôssemos virar "melhores amigos de infância", tampouco pensei em casar e ter filhos.

Para não dizer que não fiz planos, a única coisa que imaginei foi que se eu o encontrasse naquela noite, eu daria nele mais um abraço de verdade. Porque a visita é uma dessas pessoas que a gente tem vontade de abraçar forte e dar muito carinho.

Mas o plano não deu certo.A gente se encontrou naquela noite, demos um meio abraço (desses de um braço só) e trocamos dois dedinhos de prosa, amenidades. Depois a visita, que já não era mais visita, saiu. Assim, saiu saindo. Sem dizer nada, como se eu não estivesse ali.
Não me deu tchau, não olhou para mim, só saiu. Foi conversar com um amigo.

E então eu fico me perguntando: "onde foi parar a gentileza, minha gente?".
Tá certo, ele não gosta de pimenta. Mas e desde quando isso é motivo para deixar uma pessoa no vácuo?Então a pessoa insiste para vir na minha casa, vem até aqui, come da minha comida (tinha pimenta, mas foi feita com muito carinho), toma banho no meu banheiro, dorme na minha cama, ao meu lado, e quando me encontra de noite faz como se eu fosse uma mera conhecida?

Essa semana eu li um texto que dizia: "É elegante a gentileza...Atitudes gentis, falam mais que mil imagens."

Foi isso, faltou gentileza. E não tem jeito, não há beleza ou roupa bonita que compense quando, na alma, falta classe.
A decepção foi grande.
Ainda bem que não teve sexo."

Teodora T.